quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Goiabeira

Goiabeira, 2015, acrílica sobre tela, 40 x 40 cm, R$ 400,00.
Costa Pereira e a pintura plana,
formal, eruditamente pop


Em Bichos, acordes e outras superfícies, Costa Pereira responde às possibilidades de uma arte distendida entre a tradição moderna e as expectativas contemporâneas. Mais especificamente, a exposição reforça a ideia de pintura como um projeto de composição da imagem onde o desenho, a colagem e as técnicas de arquivo somam-se à tinta e a tela não para resolver problemas de representação, mas de ordem e estrutura formal. Tão reverente quanto irônica, sua abordagem da pintura incorpora as  características do retrato, da paisagem e da natureza morta para, enfim, submeter os códigos desses gêneros a novos campos de significação como a publicidade, o design e a cultura pop. Assim, apesar dos incontáveis fragmentos familiares ou dos títulos de trabalhos que possam sugerir um ou outro tema reconhecível, qualquer interpretação figurativa desta exposição torna-se menos atraente se comparada às experiências da superfície abstrata ou às reflexões sobre um objeto – o livro – cujas páginas desestabilizam o senso comum que vincula palavra, cor e forma.

O trabalho de Costa Pereira cumpre um rico protocolo de experimentação que envolve tanto a pesquisa de referências visuais quanto a coleção de esboços, a criação de pequenos acordes cromáticos com tinta e papel e a pintura feita diretamente sobre a tela. Sem fixar um procedimento como o ponto de partida desse processo, o artista percorre trajetórias poéticas às vezes mais longas e deliberadas, outras vezes mais breves e intuitivas, criando peças que alternam as funções de documento de trabalho e de obra artística acabada, pronta para a apresentação ao público e autônoma em seus valores estéticos.

Mesmo que cada trabalho desta exposição seja uma imagem pulsante que, por capricho, ora precise ser trabalhada pela mão, ora seja arranjada somente pelo olho, seu conjunto realça aspectos muito particulares de estilo como a justaposição e a sobreposição de fragmentos, a pintura no limite entre a abstração e a figuração e o universo de citações pinçadas da história da arte desde a artesania primitiva até a obra reproduzida como mercadoria pela indústria cultural.


Gleber Pieniz
Jornalista, crítico de arte, 

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